A Descoberta dos Açores a quem de direito...
Descobri este livro no fundo de um báu, e como tanto se discute a açorianidade e muitos outros temas deixo aqui uma passagem deliciosa e divertida ...
“...no entanto convém citar, que ainda que só por mera curiosidade, que foi atribuída a descoberta dos Açores aos Cartagineses e aos gregos, anteriormente à descoberta dos Portugueses. Na versão referente aos gregos diz-se, que um veleiro daquela nacionalidade, fundeado em Cadiz, tendo sido assaltado por grossa borrasca, garrou e foi parar a deriva à Ilha de são Miguel, isto 70 anos antes de descoberta pelos Portugueses. Voltando ao reino o capitão grego foi participar e pedir ao rei a Ilha, que lhe foi concedida. Resolveu o grego voltar a seus domínios e levar consigo gado, tendo falecido pouco depois do seu regresso à Ilha. Da versão dos cartagineses há, em seu favor, terem sido encontradas na ilha do Corvo moedas romanas.
Atribui-se também aos geógrafos árabes, Edrisi, no seculo XII, e Ibn-al-Wardi, so século XIV, a descrição de nove ilhas no atlântico de posição geográfica correcta e após se terem referido já à descoberta e à localização das Canárias. O primeiro mapa que se encontrou dos Açores, com marcação geográfica exacta, data de 1351. Aparece depois datado de 1375, num mapa catalão em que uma das ilhas figura com o nome de Corvi Marini e outra com o de Zan Zorze. Além disso, há quem tenha atribuído a D. Henrique a posse dum desses mapas, a que deu crédito, e tendo-se baseado na existência das Ilhas resolveu mandá-las descobrir. Tudo é incerto a este respeito, tudo é obscuro e tudo, na verdade, pode ser fantasia.
Descritas como estão estas versões dão lugar a controvérsias que podem ser rebatidas até no que diz respeito à existência e à data dos mapas. De resto esta provado não ter sido encontrado rasto humano ou de animais quando da descoberta dos Açores, e que a existência de ossos de carneiro na vila da Lagoa, atribuídos ao gado levado pelo grego, não passa de fabulosa imaginação. Se o Robison grego tivesse ido para S. Miguel de 1374 a 1375, e pouco tempo depois de ai chegar tivesse falecido, como se pretende dizer, parece pouco possível que nesta última data aparecesse um mapa catalão, onde figuram todas as ilhas dos Açores com situação geográfica nítida. E, ainda, se o grego só conheceu s. Miguel e, ao que consta, desconhecia a existência das outras ilhas, como poderia fornecer dados com precisão para a execução de um mapa perfeito, tanto mais que pouco sobreviveu à segunda viagem? Não me parece, também que o pretenso percursor de Robison Crusoé, só tivesse levado um carneiro ou dois do mesmo sexo, quando foi tornar-se senhor da ilha, mas, como era provável e racional, tivesse levado carneiros dos dois sexos a-fim-de obter e manter reprodução do gado. A não ter, pois, havido epidemia no aprisco, o pastor morria, mas o gado lanígero com a abundância do verde e honrando os progenitores vivia, e , quando os portugueses 70 anos depois lá chegassem, apresentaria muitos ossos desnudados, mas também lhes proporcionaria famoso rebanho de ossos revestidos de deliciosa carne e fofa e quente lã, o que para mareantes famintos de fresca carne era um maná. Ora os portugueses não encontraram e decerto com pesar, nem carneiros, ne ossos destes ou do grego, que também deviam aparecer a não ser que o helénico se tivesse afogado…”
P.S. este livro para além de ser meu, vai ser oferecido a alguém que o merece por várias razões, por isso não aceito propostas e tentativas de suborno para o conseguirem...
Descobri este livro no fundo de um báu, e como tanto se discute a açorianidade e muitos outros temas deixo aqui uma passagem deliciosa e divertida ...
“...no entanto convém citar, que ainda que só por mera curiosidade, que foi atribuída a descoberta dos Açores aos Cartagineses e aos gregos, anteriormente à descoberta dos Portugueses. Na versão referente aos gregos diz-se, que um veleiro daquela nacionalidade, fundeado em Cadiz, tendo sido assaltado por grossa borrasca, garrou e foi parar a deriva à Ilha de são Miguel, isto 70 anos antes de descoberta pelos Portugueses. Voltando ao reino o capitão grego foi participar e pedir ao rei a Ilha, que lhe foi concedida. Resolveu o grego voltar a seus domínios e levar consigo gado, tendo falecido pouco depois do seu regresso à Ilha. Da versão dos cartagineses há, em seu favor, terem sido encontradas na ilha do Corvo moedas romanas.
Atribui-se também aos geógrafos árabes, Edrisi, no seculo XII, e Ibn-al-Wardi, so século XIV, a descrição de nove ilhas no atlântico de posição geográfica correcta e após se terem referido já à descoberta e à localização das Canárias. O primeiro mapa que se encontrou dos Açores, com marcação geográfica exacta, data de 1351. Aparece depois datado de 1375, num mapa catalão em que uma das ilhas figura com o nome de Corvi Marini e outra com o de Zan Zorze. Além disso, há quem tenha atribuído a D. Henrique a posse dum desses mapas, a que deu crédito, e tendo-se baseado na existência das Ilhas resolveu mandá-las descobrir. Tudo é incerto a este respeito, tudo é obscuro e tudo, na verdade, pode ser fantasia.
Descritas como estão estas versões dão lugar a controvérsias que podem ser rebatidas até no que diz respeito à existência e à data dos mapas. De resto esta provado não ter sido encontrado rasto humano ou de animais quando da descoberta dos Açores, e que a existência de ossos de carneiro na vila da Lagoa, atribuídos ao gado levado pelo grego, não passa de fabulosa imaginação. Se o Robison grego tivesse ido para S. Miguel de 1374 a 1375, e pouco tempo depois de ai chegar tivesse falecido, como se pretende dizer, parece pouco possível que nesta última data aparecesse um mapa catalão, onde figuram todas as ilhas dos Açores com situação geográfica nítida. E, ainda, se o grego só conheceu s. Miguel e, ao que consta, desconhecia a existência das outras ilhas, como poderia fornecer dados com precisão para a execução de um mapa perfeito, tanto mais que pouco sobreviveu à segunda viagem? Não me parece, também que o pretenso percursor de Robison Crusoé, só tivesse levado um carneiro ou dois do mesmo sexo, quando foi tornar-se senhor da ilha, mas, como era provável e racional, tivesse levado carneiros dos dois sexos a-fim-de obter e manter reprodução do gado. A não ter, pois, havido epidemia no aprisco, o pastor morria, mas o gado lanígero com a abundância do verde e honrando os progenitores vivia, e , quando os portugueses 70 anos depois lá chegassem, apresentaria muitos ossos desnudados, mas também lhes proporcionaria famoso rebanho de ossos revestidos de deliciosa carne e fofa e quente lã, o que para mareantes famintos de fresca carne era um maná. Ora os portugueses não encontraram e decerto com pesar, nem carneiros, ne ossos destes ou do grego, que também deviam aparecer a não ser que o helénico se tivesse afogado…”
P.S. este livro para além de ser meu, vai ser oferecido a alguém que o merece por várias razões, por isso não aceito propostas e tentativas de suborno para o conseguirem...
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