"A consumição II"
"O meu desejo é um sulco húmido na minha memória. O meu desejo é um cruzar de mãos, é um toca-e-foge desmedido alojado num golpe de ar molhado a saber a résteas de algas e sal.
O meu desejo é uma haste nodosa onde adejam lantejoulas douradas uma braça abaixo de um mar azul profundo, é uma anémona que segue a corrente que passa, é uma lapa presa à rocha, é um sulco na areia do fundo da maré vazia, é o caminho de regresso ao mar, é a densidade da água dentro da qual eu me reencontro e reconstruo.
O meu desejo é um alfange onde se irisam as gotas de água do suor nocturno, escorrentes, infiltrando-se por entre a malha fina das roupas que trazemos em sonhos. O meu desejo é manietar-me, para não te querer, para não te ter fora dos tempos próprios da parada-resposta do deve e do haver.
O meu desejo é uma massa indistinta de desejos, de vontades de te comer a matéria de que és feita, de te morder com os caninos subitamente cortantes, de te apertar, de te esmagar contra mim até incorporar na mesma substância, por osmose, a carne que teima em continuar irremediavelmente dois corpos que apenas se tocam, sem se confundirem um no outro."
Alexandre Monteiro
Porque ando com falta de tempo e de imaginação , porque já algum escreveu e muito bem . ..
O meu desejo é uma haste nodosa onde adejam lantejoulas douradas uma braça abaixo de um mar azul profundo, é uma anémona que segue a corrente que passa, é uma lapa presa à rocha, é um sulco na areia do fundo da maré vazia, é o caminho de regresso ao mar, é a densidade da água dentro da qual eu me reencontro e reconstruo.
O meu desejo é um alfange onde se irisam as gotas de água do suor nocturno, escorrentes, infiltrando-se por entre a malha fina das roupas que trazemos em sonhos. O meu desejo é manietar-me, para não te querer, para não te ter fora dos tempos próprios da parada-resposta do deve e do haver.
O meu desejo é uma massa indistinta de desejos, de vontades de te comer a matéria de que és feita, de te morder com os caninos subitamente cortantes, de te apertar, de te esmagar contra mim até incorporar na mesma substância, por osmose, a carne que teima em continuar irremediavelmente dois corpos que apenas se tocam, sem se confundirem um no outro."
Alexandre Monteiro
Porque ando com falta de tempo e de imaginação , porque já algum escreveu e muito bem . ..
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